- Área: 130 m²
- Ano: 2019
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Fotografias:Attilio Fiumarella
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Fabricantes: AutoDesk, CS Coelho da Silva, MC Murta, Nemetschek, Sika
Descrição enviada pela equipe de projeto. Situada numa das partes mais antigas da Vila de Condeixa-a-Nova, na região de Coimbra, a casa que pertenceu aimigrantes portugueses que foram para o Brasil nos anos 1960 permaneceu em ruínas por quase três décadas até que surgisse a oportunidade de reabilitá-la, por iniciativa do bisneto. O atual proprietário, também arquiteto, formado pela FAU-USP, analisa a experiência de projeto e obra, que também acabou por ser de aprendizagem e troca de experiências com o arquiteto responsável pelo projeto em Portugal, Bernardo Amaral, formado na FAUP e coordenador do gabinete BAAU, sediado no Porto.
“Reabilitar a casa que pertenceu ao meu bisavô foi uma oportunidade de entrar em contacto com as técnicas tradicionais de construção no centro de Portugal através das ruínas, preservar o uso dos materiais originais da casa, substituindo por componentes disponíveis no mercado europeu que atualizam as tecnologias produtivas e manter algumas as linhas do ‘projeto’ original, resultado de sucessivas e improvisadas alterações de forma e volume, às quais pudemos acrescentar espaços. Além disto, a empreitada transatlântica foi uma oportunidade de entender como funciona um canteiro-estaleiro de uma pequena obra de reabilitação no centro de uma vila classificado como zona histórica e também entender como funcionam as políticas e incentivos nacionais e europeus para a recuperação dos centros urbanos”
Desde o final dos anos 1990, Condeixa passou por uma série de obras de construção de equipamentos urbanos e de reabilitação de edifícios e espaços públicos que fazem parte do património municipal e nacional, que incluem as ruínas de Conímbriga, importante castro pré-histórico que constituiu um dos epicentros da romanização da península ibérica, cujos vestígios e museus são considerados Monumentos Nacionais. Originalmente, a casa era composta por dois volumes independentes, perfazendo no total 49 m2 de implantação. O volume principal, tinha um primeiro andar e sótão, caracterizado exteriormente por um paramento e cobertura em telha cerâmica.
O volume mais pequeno tinha dois pisos, sendo que o primeiro andar estava ligado ao principal e o rés do chão era separado com entrada independente a partir da rua. Como estratégia de projeto, optou-se por manter as paredes exteriores em alvenaria e respetivas aberturas, unir os dois volumes interiormente e criar um segundo piso, caracterizado externamente pelo revestimento em telha cerâmica. No volume principal localizam-se a sala de estar no térreo e quartos no 1º e 2º pisos. O volume pequeno integrou a cozinha, casa de banho e um terraço. Um poço de luz e a escada quebram as dimensões reduzidas de cada piso unindo fisicamente e visualmente os 3 níveis da casa.
Com uma forma helicoidal irregular, a escada foi inspirada no projeto da arquiteta italiana radicada no Brasil Lina Bo Bardi - a reconversão do Solar do Unhão, em Salvador em Museu de Arte Moderna da Bahia. Partindo de referências e abordagens distintas, o projeto revela características da formação e da experiência dos dois arquitetos, que ainda não haviam trabalhado juntos mas partilharam referências e reflexões no campo teórico, na medida em que durante o projeto e a obra ambos realizavam suas pesquisas de doutoramento. Ao integrar referências de projeto brasileiras e portuguesas, a obra reflete o diálogo permanente entre Brasil e Portugal, diferentes tempos históricos, tecnologias tradicionais e contemporâneas e uma relação direta entre canteiro-estaleiro, memória e projeto.